Há exatos 40 anos David Bowie lançou um dos álbuns mais influentes e importantes da música contemporânea. O melancólico e experimental "Low", foi o primeiro disco da chamada "trilogia de Berlim", que teria sequência com "Heroes" (também de 1977) e se encerraria com "Lodger", em 1979.

Em comum aos três trabalhos, temos a presença fundamental de Brian Eno, o parceiro escolhido pelo astro para ajudá-lo em mais uma guinada musical. O ex-tecladista do Roxy Music foi fundamental na concepção do disco, especialmente em sua segunda metade.

David Bowie
Mas antes de chegarmos lá, vale falar um pouco sobre como o disco nasceu. "Station To Station" de 1976, já mostrava o fascínio do cantor pela música eletrônica alemã, em especial pela do Kraftwerk. Se a época marca o provável ápice criativo do músico, ela também é lembrada por ser o momento em que o astro se mostrava mais frágil física e mentalmente.

Morando em Los Angeles, mal se alimentando, e fazendo uso sem limites de cocaína, Bowie de fato estava perto da morte no meio dos anos 70.

A esse cenário some ainda a paranoia, que as drogas só fizeram aumentar, e o seu interesse cada vez maior nas ditas ciências ocultas e fica claro que uma mudança de ares e de estilo de vida eram mais que necessárias.

O cantor então rumou para Berlim junto com Iggy Pop - outro que precisava desesperadamente de uma guinada radical e lá finalmente começou a se livrar de seus demônios.

Na década de 70 David Bowie, foi bastante prolífico, mas em 1977 ele de fato trabalhou. Além de seus dois álbuns, ele ainda participou ativamente de mais uma dobradinha fundamental da história do rock - "The Idiot" e "Lust For Life" de Iggy Pop - e também deu uma força na turnê do amigo, discretamente tocando teclados nos shows.

Voltando a "Low", é curioso saber que na verdade ele não teve muitas faixas gravadas na Alemanha - o grosso do material saiu de sessões na França, mas a influência germânica está toda lá.

David Bowie
O trabalho é marcado pro suas duas metades bem distintas. O lado A era aberto e fechado por canções instrumentais de pegada mais roqueira e entre elas, estavam as faixas mais tradicionais. Além do single memorável "Sound And Vision" e da poderosa "Be My Wife", vale destacar a bela "Always Crashing In The Same Car" e a quase vinheta "Breaking Glass".

Em todas essas faixas fica claro o clima de experimentação e o fascínio que os sintetizadores exerciam no músico e como Eno foi fundamental no disco.

O "não-músico" (como ele costumava se definir) assume papel ainda mais preponderante no antigo lado B, todo composto por peças instrumentais, algumas delas com vocalizações, quase todas de tom solene e/ou lúgubre.

Aqui os teclado tomam de vez a dianteira e antecipam muitas tendências do futuro - é difícil imaginar boa parte do pós punk, synthpop e de boa parte da música eletrônica que tomou conta do mundo nos anos e décadas que se seguiram sem "Low".

Até pelo seu caráter experimental, o disco não foi um grande sucesso de vendas, ainda que tenha chegado ao topo da parada britânica e ao 11° da americana. Apesar de suas vendas relativamente modestas, "Low", se tornou além de influente, um disco bastante celebrado pelos críticos, fatores que o ajudaram a atravessar gerações.

Bowie também tinha bastante carinho por ele, tanto que em 2002 ele tocou todas as suas músicas em alguns shows da "Heathen Tour", a única vez em que ele tocou todo um álbum, ainda que com as músicas em outra ordem, no palco.

Ouça o disco no player abaixo


Aqui ele toca o álbum na íntegra em 2002. Ouça e não deixe de escutar os grandes momentos de David Bowie na estação dedicada ao rock clássico do Vagalume.FM!