Não existe preconceito, o problema é que o negro Quer deixar à senzala Quer vir sentar na sala Quer ter direito a fala
Não existe preconceito, o problema é que o negro Quer deixar à favela Não quer viver de esmola Não quer deixar à escola
Não existe preconceito, o problema é que o negro Não quer descer ladeira Não quer resto de feira Não quer comer poeira
Não existe preconceito, o problema é que o negro Não se dobra com chicote Não se cala com acoite Não é servil à elite
Não existe preconceito, o problema é que essa negra Não sacode essa cadeira Não desce à ladeira Não satisfaz vontade passageira
Não existe preconceito, o problema é que essa negra Freqüenta o baile de gala Sabe muito bem o que fala Não perde seu tempo com novela
Não existe preconceito, o problema é que esse negro Deixou seu lugar comum Não é mais qualquer um Não se dobra a senhor algum
Não existe preconceito, o problema é que esse negro Atravessou à margem Mais não esqueceu sua origem E recusou à maquilagem
Não existe preconceito, o problema é que esse negro Não se engana com mentira Que marginaliza sua cultura E a verdade transfigura
Não existe preconceito, o problema é que esse negro Resgatou sua história Tem uma África na memória E um canto de vitória
Não existe preconceito, o problema é que o negro Não sangra mais no tronco Não se engana nem um pouco Não se vende nem quer troco
Não existe preconceito, o problema é que o negro Reclama, pede por mudança Não quer mais saber dessa injustiça E não dá mais para olhá-lo com indiferença
Não existe preconceito, o problema é que o negro Quer sua liberdade Sua luta, sua oportunidade Seu direito à felicidade Com prevê a constituição
Se o negro aceitasse sua condição Se ficasse onde estão Se o negro aceita à favela Que é uma extensão da senzala E vivesse com que lhe dão de esmola
Se não reclama seu direito Não existiria preconceito Porque aceita o que lhe é dado, que é o resto E não o que lhe é de direito
Meus versos não tem pele, não tem cor Meus versos tem humanidade e amor Meus versos é o canto do oprimidos Meus versos é o grito dos injustiçados