Jayme Caetano Braun

Amargo

Jayme Caetano Braun


Velha infusĂŁo gauchesca
De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vazilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina,
E esse gosto de resina
Que nĂŁo Ă© amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lĂĄbios de alguma china!

A velha bomba prateada
Que atrĂĄs do cerro desponta
Como uma lança de ponta
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
Nalgum rincĂŁo de tapera!

Velho mate-chimarrĂŁo
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da histĂłria,
E repassando a memĂłria
Vejo tropilhas de um pĂȘlo
Selvagens em atropelo
Entreverados na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!

Nessa lagoa parada
Cheia de paus e de espuma
VĂŁo cruzando uma, por uma,
Antepassadas visÔes
Fandangos e marcaçÔes
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas,
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador!

Sangue verde do meu pago
Quando o teu gosto me invade
Eu sinto necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistĂ©rio por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias!

GaudĂ©ria essĂȘncia charrua
Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo,
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo o meu ser,
E um dia quando morrer,
Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça
Do meu chimarrĂŁo querido
Porque entĂŁo irei ungido
Com ågua benta da raça!!!

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